O título por si só já é inquietante, algo que normalmente sequer pensamos e que nomeado desta maneira produz algum incômodo.
O filme é incrível, mas não vou contá-lo, só aproximar uma lente de alguns detalhes que me contundiram.
São muitas as “desfigurações” que se sucedem. Robert, o médico e pesquisador brilhante vê sua vida esfacelar-se e persegue, obstinado, uma forma de reparar ou reconstruir o que perdeu.
Vicente, ainda só parcialmente modificado, ao ouvir do médico que a cirurgia foi um sucesso, pergunta se já pode voltar para casa. Ainda não, é a resposta.
Mutações mais tarde, Vera repete a mesma pergunta. Mas o faz igualmente de forma frágil, talvez prevendo a resposta ou mesmo já adaptada a situação do cárcere. Seu contato com o mundo é a televisão que, num programa, lhe oferece exercícios de libertação, ainda que o corpo esteja preso. No caso a prisão é dupla.
Ela habita uma pele estranha, aprisionada numa casa onde Robert assiste seus movimentos e a deseja através de uma enorme tela. Há um momento em que ela parece ceder completamente, identificando-se com o torturador – ele mesmo prisioneiro e torturado.
Mas então reencontra seu rosto original, e sob a nova pele que a veste, desperta um desejo de voltar a existir por si só. Toma coragem e parte para reconquistar a liberdade, ainda que limitada pela pele que habita.