silencio

recolho os pratos

os versos

as armas

qualquer atitude agora

seria um furacão

máquina de torcer sentidos

faca afiada

moedor de sonhos

.

silencio

o amor que ainda resta

o ódio que brota

a vontade de virar a mesa

e fujo para uma praia distante

onde possa uivar como animal ferido

.

engulo os fatos

embrulho o estômago

e os retalhos daquilo que seria muito

saio sem estardalhaço

sem ilusões

avanço pelos dias

até ganhar distância

acerca do tempo ou quase

FAZ TANTO TEMPO.JPG

quase um ano – é muito pouco pode ser demais nem se dar conta que passou durar uma eternidade um nada.

quase – pode anteceder o vir a ser mera desculpa não se revelar estar sempre a ponto de nunca chegar.

lugares para os quais você volta – anos depois – tira o sapato abre a janela reconhece o cheiro da terra a permanência das árvores tudo exatamente como se tivesse saído por instantes.

pessoas que você deixa de ver por um ano e quando encontra é um abismo outras com quem retoma assuntos do mesmo ponto e as raras com quem longas conversas se fiam em silêncio no longe de não ver ou tocar.

quase um ano – pode ser toda uma vida ou uma lembrança que falseia lá no fundo de um baú de fotos notícias ilusões pode ser um barco enveredando por outros mares uma grande mala a espera de um trem uma outra vida.

um ano pode mover o mundo colocar pontos finais abrir caixas de pandora quebrar espelhos ou simplesmente um novo calendário pregado na parede branca dos dias.

PROMESSAS

costuradas em silêncio
esboços de sombra e luz
traços sutis carinho
passeios por trilhas da memória
escavações e surpresas
.
noites de lua
viagem a um outro país
jardins de inverno sacadas portões
flores brotando ao acaso
temporada de descobertas
.
e nós
pássaros migratórios
esquecemos de partir

san francisco

quero sem querer

algo iminente

irá acontecer

independente

de tudo

 

existe o aqui

aí talvez lá

nesse entre em que estou

já disse isso antes:

é só um suspiro

ou suspense

suspenso nas horas

que resvalam

 

tomo um café

rabisco anotações perfis

esboço meu susto

meu rosto

mil traços

viagem

Não durma demais nessa hora
o tempo passa
o trem descarrilha
a morte enlaça

Não volte tarde
não vague madrugadas
o sono é sábio e sonha por você
a noite inteira

não acorde nem mate o monstro
que vigia a casa
mas tenha sempre perto da porta
a trivial bagagem
se a viagem for intempestiva e obrigatória

durma e descanse
pode ser a hora
pode ser que seja tempo
de virar a mesa mudar a rota
saltar às cegas para um novo mundo

recomeçar pode ser o fim
morrer pode ser depois
deixe sempre por perto
a velha carta dos sonhos
e o passaporte válido

mala extraviada

algumas

ao longo da vida

por viagens em geral aéreas

cheias de expectativas

ou apenas protocolares

ou ainda pura fuga

 

malas (e tantas outras coisas)

que descaminham

por alguma falha do destino

pra quebrar o comum das certezas

uma noite sem roupas

a espera, a dúvida

a curiosidade: onde andará

se deveria estar comigo ?

 

tenho me extraviado tanto

e de tal forma

é bem capaz de encontrar-me

neste justo (ou injusto) momento

girando numa esteira

de um aeroporto qualquer

mínimos deslizes

by desenhando o mundo (tumblr)

falo de maneira obtusa

calo o que é obvio

e finjo não saber

.

tenho um nome estampado no peito

mínima bagagem sempre no porta-malas

um carrinho de rolimã atrás da porta

.

para o que servem não importa

arrasto uma história por todo lado

escritos que não chegam ao fim

.

como a casa onde me alojo

construí com as próprias mãos

e esqueci de abrir janelas e porta

.

logo eu

claustrofóbica