antes de sair
o poeta guarda
cuidadosamente
suas asas
entre as folhas
do caderno
antes de sair
o poeta guarda
cuidadosamente
suas asas
entre as folhas
do caderno
.
amanhã será outro dia
e ainda assim esse dia não vai partir
permanecerá entre fronhas e presságios
.
mas a vida não vai te abandonar
nem te permitir morrer de dor ou tédio
persistirá latente
.
e em pouco te atropelará
os momentos de luto serão suspensos
tomados de assalto por contas e caos
.
o alerta será vermelho o tempo curto
a urgência de inúmeras coisas
trará de volta o intenso tráfego do dia-a-dia
.
as noites serão longas e iguais
durante um tempo sem tempo
montanhas de dúvidas e cavalos de batalha
.
mas aquele dia que você acreditou jamais esquecer
aos poucos irá desbotando
ao contato com raios de sol e vaga esperança
(tumblr_indissoluvel_julliett1)
.
volto pra casa
sem querer
penso numa viagem
no sol que se põe
do outro lado do mundo
vontade de ir lá pra ver
aqui não tem graça
ou tem mas esse jeito inquieto
de estar sempre a procura
faz o mundo girar
.
chegarei na hora incerta
não se preocupe
essa vontade de ser
é sempre impulso
mola que movimenta
elástico no estilingue
e então voar
.
sei de você detalhes
assimilados de súbito
sem muitos preâmbulos
ou divagações
.
do longe que se impôs
observo dias mais longos
porque noites vazias
e ainda assim pouco sei
.
sentir é mais que saber
embora quase sempre
seja necessário nomear
.
mas andava sem palavras
e o abraço funcionou como senha
para que nosso barco ainda em esboço
se atirasse ao mar
tomo um ônibus
transito pela cidade lenta
corpos suados pressa
paisagem sem foco
buzinas pensamentos
um rádio uma parada brusca
trechos de conversas roubadas
se misturam numa história insensata
relógio sem ponteiros
horas que dão em anos em nada
salto no ponto errado
talvez certo se tudo fosse diferente
caminho contando os passos
o cansaço é palpável
eu o carrego nas costas
e debaixo do braço
sento na praça
deveria seguir mas não posso
minhas pernas de cimento
travam duelos com as asas
e esse coração vertigem
uma hora antes da hora
pés arrastando a vida
e alguma história
.
chão feito de rochas
mapa em branco
e nenhuma vara de condão
.
na bagagem
pouco mais que nada
além das asas partidas
fim de tarde
quando as possibilidades do dia
já se guardam
para um outro amanhecer
quem sabe?
.
entre as cores do céu
há uma que me esquece de mim
outra que me leva
onde sonhos se perdem
descalços numa areia distante
.
até os pássaros suspendem o canto
nos aquietamos aturdidos alertas
numa atenção perdida
aguardando o desfecho
da luta diária noite-dia
.
sabemos quem vence agora
e quem voltará vitorioso
no próximo round
queria eu também ter
certezas assim
.
fim de tarde
todos os seres suspiram nessa hora
é quase possível perceber (talvez acreditar)
no pulsar das veias nas confissões de amor
no fluir dos rios que nem sempre correm para o mar
quase
a noite ainda na sala de espera
se fosse pra mim
o recado o sonho o chamado
partiria agora
em uma nave especial
lotada de poemas e doidices
não esperava sequer o avião
(ultimamente a neblina tem atrasado
ou mesmo cancelado voos)
voltava a velha casa
tirava as asas do porão
pedia aos pássaros dicas sobre o caminho
saltava da Pedra da Gávea
e ia beirando as praias
até bater na sua janela
e com a ajuda dos amigos alados
fazia ninho no seu coração
são muitas
janelas entreabertas
portas fechadas
bato escancaradamente
em algumas delas
nada
.
subo pelas paredes
tento alcançar varandas
o homem-aranha me tira
da cena
não aceita coadjuvantes
nenhuma estrela
ainda que cadente
a lhe fazer sombra
desisto
.
deslizo muro abaixo
de volta ao térreo
ao reles mundo sem asas
apago a luz
recolho o sonho
tranco a porta
com sete chaves
e nenhum acorde