dias de sol

sol

.

amanhã será outro dia

e ainda assim esse dia não vai partir

permanecerá entre fronhas e presságios

.

mas a vida não vai te abandonar

nem te permitir morrer de dor ou tédio

persistirá latente 

.

e em pouco te atropelará 

os momentos de luto serão suspensos

tomados de assalto por contas e caos

.

o alerta será vermelho o tempo curto

a urgência de inúmeras coisas 

trará de volta o intenso tráfego do dia-a-dia

.

as noites serão longas e iguais

durante um tempo sem tempo

montanhas de dúvidas e cavalos de batalha

.

mas aquele dia que você acreditou jamais esquecer

aos poucos irá desbotando

ao contato com raios de sol e vaga esperança

mais

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(tumblr_indissoluvel_julliett1)

.

volto pra casa

sem querer

penso numa viagem

no sol que se põe

do outro lado do mundo

vontade de ir lá pra ver

aqui não tem graça

ou tem mas esse jeito inquieto

de estar sempre a procura

faz o mundo girar

.

chegarei na hora incerta

não se preocupe

essa vontade de ser

é sempre impulso

mola que movimenta

elástico no estilingue

e então voar

navegar

mar.

sei de você detalhes

assimilados de súbito

sem muitos preâmbulos

ou divagações

.

do longe que se impôs

observo dias mais longos

porque noites vazias

e ainda assim pouco sei

.

sentir é mais que saber

embora quase sempre

seja necessário nomear

.

mas andava sem palavras

e o abraço funcionou como senha

para que nosso barco ainda em esboço

se atirasse ao mar

179

tomo um ônibus

transito pela cidade lenta

corpos suados pressa

paisagem sem foco

buzinas pensamentos

um rádio uma parada brusca

trechos de conversas roubadas

se misturam numa história insensata

relógio sem ponteiros

horas que dão em anos em nada

salto no ponto errado

talvez certo se tudo fosse diferente

caminho contando os passos

o cansaço é palpável

eu o carrego nas costas

e debaixo do braço

sento na praça

deveria seguir mas não posso

minhas pernas de cimento

travam duelos com as asas

e esse coração vertigem

partimos

uma hora antes da hora
pés arrastando a vida
e alguma história
.
chão feito de rochas
mapa em branco
e nenhuma vara de condão
.
na bagagem
pouco mais que nada
além das asas partidas

quase

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fim de tarde
quando as possibilidades do dia
já se guardam
para um outro amanhecer
quem sabe?
.
entre as cores do céu
há uma que me esquece de mim
outra que me leva
onde sonhos se perdem
descalços numa areia distante
.
até os pássaros suspendem o canto
nos aquietamos aturdidos alertas
numa atenção perdida
aguardando o desfecho
da luta diária noite-dia
.
sabemos quem vence agora
e quem voltará vitorioso
no próximo round
queria eu também ter
certezas assim
.
fim de tarde
todos os seres suspiram nessa hora
é quase possível perceber (talvez acreditar)
no pulsar das veias nas confissões de amor
no fluir dos rios que nem sempre correm para o mar

quase
a noite ainda na sala de espera

pra mim

Ryan Hewett

Ryan Hewett

se fosse pra mim

o recado o sonho o chamado

partiria agora

em uma nave especial

lotada de poemas e doidices

não esperava sequer o avião

(ultimamente a neblina tem atrasado

ou mesmo cancelado voos)

 

voltava a velha casa

tirava as asas do porão

pedia aos pássaros dicas sobre o caminho

saltava da Pedra da Gávea

e ia beirando as praias

até bater na sua janela

e com a ajuda dos amigos alados

fazia ninho no seu coração

janelas

são muitas

janelas entreabertas

portas fechadas

bato escancaradamente

em algumas delas

nada

.

subo pelas paredes

tento alcançar varandas

o homem-aranha me tira

da cena

não aceita coadjuvantes

nenhuma estrela

ainda que cadente

a lhe fazer sombra

desisto

.

deslizo muro abaixo

de volta ao térreo

ao reles mundo sem asas

apago a luz

recolho o sonho

tranco a porta

com sete chaves

e nenhum acorde