silencio

recolho os pratos

os versos

as armas

qualquer atitude agora

seria um furacão

máquina de torcer sentidos

faca afiada

moedor de sonhos

.

silencio

o amor que ainda resta

o ódio que brota

a vontade de virar a mesa

e fujo para uma praia distante

onde possa uivar como animal ferido

.

engulo os fatos

embrulho o estômago

e os retalhos daquilo que seria muito

saio sem estardalhaço

sem ilusões

avanço pelos dias

até ganhar distância

estar

ao ar livre

sem tempo a ganhar

ou perder

atravessar uma praça

caminhos possíveis

vários

sem mapas

pés tateando folhas

tocar o ar

cheirar o azul

música feita

de sons falas cheiros

.

seguir o vento

levando

sonhos a passeio

voltando

não lembro de quando parti
e se tento voltar
é pra rever estrelas
no mesmo céu da infância
conferir latitudes
constelações
e tentar resgatar
amigos e sonhos
que se perderam em mim

san francisco

quero sem querer

algo iminente

irá acontecer

independente

de tudo

 

existe o aqui

aí talvez lá

nesse entre em que estou

já disse isso antes:

é só um suspiro

ou suspense

suspenso nas horas

que resvalam

 

tomo um café

rabisco anotações perfis

esboço meu susto

meu rosto

mil traços

janeiro

tumblr_belleshaw
(tumblr-belleshaw)

.

parecia enfim o começo

as cortinas da natureza abertas

chão de terra pés descalços

um teto a construir com calma alegria

um abraço pleno desarmado

.
os dias despertavam

enlaçados um no outro

as peças dessa vida quebra-cabeça

se encaixando

.

já sabíamos algumas trilhas florestas

cantilenas do sertão e praias só nossas

o arco íris bem a frente

era só seguir confiar e tecer

um mundo de partilhas

.

anotei nossas promessas e nomes

no velho caderno sem pauta

limpei as vidraças do coração

e com um sorriso límpido

parti acreditando

.

não sei se foi o vento sudeste

as folias do Carnaval

ou as águas antecipadas de março

que arrastaram os sonhos

até as pedras

partimos

uma hora antes da hora
pés arrastando a vida
e alguma história
.
chão feito de rochas
mapa em branco
e nenhuma vara de condão
.
na bagagem
pouco mais que nada
além das asas partidas

noites brandas

by desenhando-o-mundo (tumblr)

Na varanda

a rede abraça o corpo estendido

ao mínimo movimento do vento

ela distraída responde

ligeiro balanço

.

A brisa é fresca

acaricia o rosto, ameniza a dor

os sonhos devaneiam pelo jardim

há duendes brincando junto ao riacho

e flores aguardando a primavera

.

No fim da tarde as nuvens se adensam

crianças que há muito cresceram

entoam cantigas nessa hora

enquanto o céu escurece

os corações envelhecem

.

Estrelas sempre arrancam de nós

suspiros e atordoamento

desnudam nossa pequenez

apontam tantos mistérios

nos defrontam com o tempo

.

Este que leva e traz

e sem aviso toca a campainha

lá no longe da porteira

que nada separa

e tudo indefine