cotidianamente

faço como aquela chinesa

que sai todos os dias

pequenos passos  

sem falar ou sorrir

saudades do outro mundo?

.

vago pelas ruas

da cidade pequena

que se esconde na grande cidade

e na areia fina

de uma praia simbólica

.

a passos miúdos

costuro palavras-pensamento

enquanto procuro

meu sapato de salto

que afundou na lama

de um anteontem qualquer

me atraso

agarrada aos contos de fada

que aliviavam a solidão da infância

e imito a chinesa

que volta ao fim da tarde

.

retira sua pele branca

sua fala não dita

seus pezinhos macios

abre a porta ou a página

e parte para dentro do fora

ou para agora nunca mais

ontem

DSC09971.JPG

.

ontem te vi passar
nevava muito em Nova York
às seis da tarde já escuro
eu nem estava lá
você tampouco

.

seu sobretudo azul
cheio de gomos brancos
pensei te convidar
pra fazermos um boneco de neve

.

então sorrimos e nos abraçamos
mas isso foi ontem em Nova York
onde nunca houve
eu e você

definitivo

noite ou dia – não mais
só um ponto
águas divididas
estreito rio

não há sol ou frio
nem expectativa
talvez alguma dor
de saber a um passo
e nunca mais