Ouço vozes distantes
De tão longe não posso ver
Mas ouço, por um canal de vento
Há uma explicação para isso
Que desconheço, mas o som chega
Houve um tempo em que tentava descobrir
Para além de cada carreira do cafezal
De cada moita de bambu
Os donos das vozes
Mais tarde passei a me concentrar
Unicamente nas vozes
Tentando captar os diálogos
Ouvi conversas fúteis
Juras de morte, intrigas
Nada disso me interessou
Hoje olho a imensidão
Não decifro palavras no vento
Sei que toda gente sonha, sofre, sorri
Só, mergulho no vasto do existir
Sem explicações, sem filosofias
As perguntas (inumeráveis), calo
Fico a escutar o ar, o tempo
A observar distâncias
Paisagens, poemas.