
picture by Shutter wide shut (flickr)
Não quero ver ou ouvir, nem ir além
a bolha estourou, que mundo é este ?
tenho vertigem do mais, medo do menos
pratico delírios, saltos mortais (que adio)
viajo por lugares não cadastráveis
quem se aproxima de mim ?
por que ? com que objetivos ou faltas ?
me perco aqui e ali
desvio, troco de rumo
mudo de opinião e de casca
transmudo, quase me calo
em que momento perdi minhas asas ?
apenas caíram ou derreteram sob o calor
de um outro corpo ou paixão ?
às vezes me quase acredito
aceito ilusões fáceis a módicos custos
mergulho em águas turvas e só depois vejo onde fui
preciso de ar, de asfixia, de algo sem nome
do alto da montanha imagino o salto
o silêncio, entrega, a liberdade de ir além
não quero saber, sentir já é dor e prazer
descarto os caminhos conhecidos
me levaram a becos sem saída
descarto também os trilhos seguros
não sei viver pequenos bocados, me enfastia
não quero ser triste ou pouco
desfiando histórias que mal me cabem
queria que a lua cheia sorrisse
mas só a nova faz isso e inicia novo ciclo
entre o barco e o porto distâncias se costuram
o leme de tantas viagens, como um galho seco, partiu-se
a bússola sem norte ou sul é apenas objeto decorativo
na sala onde coleciono vazios
são frágeis os planos para evacuar os estádios
multidões de pensamentos invadem o cenário
vozes e demônios sobem ao palco sem cerimônia
não tente entender este relato
não há nele palavras-chave, começo ou fim
estou enredada no meio, destecendo e cerzindo
não posso mais inventar destinos, traçar perfis
estilhaçar meu próprio sentido tão desprovido de si mesmo
pouco me importam as receitas
as opiniões que os sóbrios possam ter de mim
os meus desejos, os caminhos que fiz ou planejei
fizeram-se/me pedaços, vagos, factuais, fumaça
são tolos todos os versos
e inocentes as juras de amor
a nau dos meus sonhos perdeu-se
entre tempestades e calmaria
paixão e precipício