san francisco

quero sem querer

algo iminente

irá acontecer

independente

de tudo

 

existe o aqui

aí talvez lá

nesse entre em que estou

já disse isso antes:

é só um suspiro

ou suspense

suspenso nas horas

que resvalam

 

tomo um café

rabisco anotações perfis

esboço meu susto

meu rosto

mil traços

cultivar

Tenho questões pendentes

que me esforço por resolver

embora duvide do valor do que se faz

da dor que nada traduz

da espera nos pontos de ônibus

 

Tenho reunido impressões

em fotos em abraços em branco

guardado amores em rascunhos

apostado em noites sem lua

em corpos sem rosto

em rostos sem amargura

 

Tenho feito de tudo um pouco

e pouco me ajudam os mapas

as viagens de qualquer espécie

e os dicionários de antônimos

 

Mas me esforço para sorrir

bilhar junto aos primeiros raios de sol

e embarcar em sonhos e planos

às vezes em alto mar

outras em voos rasantes 

 

Viajo em rios caudalosos

em braços feitos cipó

um dia maremoto outro túnel do tempo

outro ainda lições de silêncio

ou um amor que dura infinito momento

sem tempo sem muros

semente

lunar

no mundo da lua
às vezes atrasada aos fatos
outras chegando tão antes
que não vislumbra o depois
longe longe
lugar branco de silêncio e azul
alhures
habitante que se confunde
intercósmicas estradas
pontes pênseis
sustentadas por sonhos
lua clara noite
um rosto risco no escuro
vagas ondas
nuvens de espuma
que se desmancham
lunares
ares
areias

paralelas

lua-e-estrelas
.
Fizemos uma festa
Não exatamente uma festa
Pois a convidada principal
Não poderia estar presente
Ainda que tomasse tudo e sorrisse

Caminhamos na praia
A lua e as estrelas brilhavam sem cachê
Por pura vontade de existir
Em sintonia com o universo

Vi uma estrela cadente
Fiquei feliz ainda que o coração partido
Pedi nada e ao mesmo tempo tudo
É sempre assim na aflição de responder
Em um segundo qual o nosso especial desejo

Neste momento o desejo maior
Não poderia ser satisfeito
Tem coisas da vida que não tem direito
A retoques ou correções

O céu estava lindo de doer
O mar brando ia e vinha em seu eterno repetir
Formávamos um grupo inusitado
Em nenhuma outra circunstância
Estaríamos ali juntos

Pés afundando na areia passos sem motivo
Enquanto uma estrada paralela e clara se desenhava
E nossa amiga seguia por ela
Ao som de pássaros e violinos

(para Denise)

janeiro

tumblr_belleshaw
(tumblr-belleshaw)

.

parecia enfim o começo

as cortinas da natureza abertas

chão de terra pés descalços

um teto a construir com calma alegria

um abraço pleno desarmado

.
os dias despertavam

enlaçados um no outro

as peças dessa vida quebra-cabeça

se encaixando

.

já sabíamos algumas trilhas florestas

cantilenas do sertão e praias só nossas

o arco íris bem a frente

era só seguir confiar e tecer

um mundo de partilhas

.

anotei nossas promessas e nomes

no velho caderno sem pauta

limpei as vidraças do coração

e com um sorriso límpido

parti acreditando

.

não sei se foi o vento sudeste

as folias do Carnaval

ou as águas antecipadas de março

que arrastaram os sonhos

até as pedras

definitivo

noite ou dia – não mais
só um ponto
águas divididas
estreito rio

não há sol ou frio
nem expectativa
talvez alguma dor
de saber a um passo
e nunca mais

viagem

Não durma demais nessa hora
o tempo passa
o trem descarrilha
a morte enlaça

Não volte tarde
não vague madrugadas
o sono é sábio e sonha por você
a noite inteira

não acorde nem mate o monstro
que vigia a casa
mas tenha sempre perto da porta
a trivial bagagem
se a viagem for intempestiva e obrigatória

durma e descanse
pode ser a hora
pode ser que seja tempo
de virar a mesa mudar a rota
saltar às cegas para um novo mundo

recomeçar pode ser o fim
morrer pode ser depois
deixe sempre por perto
a velha carta dos sonhos
e o passaporte válido

179

tomo um ônibus

transito pela cidade lenta

corpos suados pressa

paisagem sem foco

buzinas pensamentos

um rádio uma parada brusca

trechos de conversas roubadas

se misturam numa história insensata

relógio sem ponteiros

horas que dão em anos em nada

salto no ponto errado

talvez certo se tudo fosse diferente

caminho contando os passos

o cansaço é palpável

eu o carrego nas costas

e debaixo do braço

sento na praça

deveria seguir mas não posso

minhas pernas de cimento

travam duelos com as asas

e esse coração vertigem