olhando assim
a grosso modo
só isso
mas o que é isso?
quase nada
quase?
nada
olhando assim
a grosso modo
só isso
mas o que é isso?
quase nada
quase?
nada
no meu calçadão
quando faz sol
há sempre o homem calvo
o ciclista paramentado
o gari cansado
e a jovem de cabelo azul
em dias nublados
além destes
aparece o senhor de bengala
com o garoto do velocípede
um bebê no carrinho
tudo assim igual igual
muito raramente
um novo personagem surge
e muda o rumo dos ventos
minha forma de andar
os horários do meu dia
o meu dia
a brisa esbarra na tela contra mosquitos e se afasta
adentro a noite quente e sem insetos
medito para ganhar tempo
recordo o céu colado no teto
invejo a brisa que pode te tocar
ou será que seu corpo tem tela
fecha a janela e liga o ar condicionado?
as paredes suam o velho assoalho reclama
respiro fundo como aprendi num certo treinamento
pra evitar cansaço calor medo
o medo é uma substância à deriva
vem e vai sem aviso ou motivo
em breve o amanhecer avisará que é hora
e tudo será mais distante daquele ponto
para isso me apronto
pinto de azul o fundo dos meus olhos
e tento explicar o infinito
passei por várias bancas
Edíficio Central Saara
camelódromo mercadão
lojas de informática
páginas e páginas na internet
nem mestre google
trouxe a solução
.
minha máquina de sonhar
continua sem fichas

.
asilar-se
por alguns sóis
na força do deserto
na sombra pouca
do valor raro
do vaso etrusco
assombrar-se
na vastidão do céu
sem luzes ou cidades
dias sem lua
deixar-se tomar
pela imensa estranha
sensação de ser
um ínfimo grão
e ainda assim
ser tudo
pequenas dúvidas
podem virar tormentas
ligeiras certezas
incendiar florestas
afastar-se para ver
não o detalhe
afixado no dia-a-dia
mas o horizonte
a flor diversa
o traçado dos mapas
o dia seguinte
nessa primavera
repleta
de manhãs belas
plantei
belas manhãs
no jardim

.