jogo palavras cruzadas
acendo o fogo lembro de ti
sem levantar dor ou dúvida
me entretenho com a chuva
a escorrer na grande janela
.
vagueio por livros não lidos
revistas antigas
poemas por vir
me acomodo entre cobertas
enredada em distâncias
.
noite mansa
sem visitas ou surpresas
consulto oráculos
imaginários
e atiro palavras ao leu
palavras
navegar
.
sei de você detalhes
assimilados de súbito
sem muitos preâmbulos
ou divagações
.
do longe que se impôs
observo dias mais longos
porque noites vazias
e ainda assim pouco sei
.
sentir é mais que saber
embora quase sempre
seja necessário nomear
.
mas andava sem palavras
e o abraço funcionou como senha
para que nosso barco ainda em esboço
se atirasse ao mar
abismando
Levo no bolso a identidade prescindível
sei de cor nome, endereço, códigos de convivência
investigo a vida das formigas e invejo os pássaros
que enchem minhas tardes sob as árvores
.
Queria esquecer tantas culpas, reinventar palavras
as que conheço não me exprimem
ponho todas no liquidificador e ainda assim não tem suco
soam rasas, não fazem sulcos na terra ou no peito
.
Quero palavras de criar abismos e alternativas
de avizinharem o outro e talvez possuí-lo
de revelarem-se numa obra mútua que a cada olhar
se desfigure e se refaça – roteiro de outra viagem