De postal em postal (me) decoras parede afora
nesse digo estou bem, feliz até
noutro, entrelinhas, deixo entrever
ligeiro caso de olhar – quase de amor
ainda noutro, tão soturna
influências de uma noite escura
e ainda aquele em que inspirada
revejo romântica, nossos encontros,beijos, disfarces
chego mesmo a pensar em casamento.
Depois desse tão efusivo
segue o reticente e já nem sei se volto
se fico pra sempre à deriva
e daí pro naufrágio é um mergulho
onde pulo, aperto o gatilho
rasgo o livro que escreveria.
Mas por sorte o próximo é tão lindo
rua estreita, casas floridas
adivinho quintais, crianças, queria tanto
cozinhar bem pro meu bem
fazer docinhos, pastéis.
E então um corte/
Lisboa by night emoldurada
e me derramo sedução e fados
depois um poema duro
sem data ou sentimento certo
e o abstrato, irrecorrivelmente hermético
e outros e tantos, variando segundo
meus ares e tempestades
mas no final, afinal, todos se igualam
amor, saudade, te quero
e só por isso
(não pelos exibicionismos poéticos)
eles atravessam o mundo
e em suas mãos
me entregam
Do livro: Sem Alarde, Vânia Osório, Taurus/Timbre