blasfemo
contra você que não me quer ou não se revela
contra o céu que escureceu sem aviso
o ar pesado, as dívidas, as trincas de azes
que não surgem mais em minhas mãos
quantos verbos imperfeitos
quantos pretéritos sonhados
realidades preteridas ?
forço a tensão de todas as cordas
até que seja quase impossível
permanecer assim
rebentação
eu e meu mutismo provisório
meus escritos em pé de página
bicicleta na madrugada
o mar batendo nas costas da noite
enquanto pedalo ou caminho
uma rajada de vento
e aquele abraço doce e intenso
pelo qual espero
embora pressinta que devo tomá-lo
a força, se preciso
antes que a noite parta
e o dia interdite a paixão
varrendo os desejos para baixo do horizonte
acho que está mais que na hora de pensar num novo livro solo de poesia. Adorei este. Estou aqui a postos, caneta em punho, para revisar essa Rapadura. Bjs
Querida amiga, já que aceitou publicamente
(para os meus três ou quatro eventuais leitores)
a função de revisora, começo febrilmente meu trabalho.
Mas peço suas sábias sugestões, diante de tantas dúvidas
e do desafio de organizar um livro.
Junto tudo e te mando.
Um baú de retalhos.
Uma caixa sem sapatos.
Alguns retratos.
Uma foto antiga, em branco.
Os personagens, talvez eu entre eles, se libertaram com o tempo.
O tempo – figurinha fácil nos tantos poemas.
Alguns velhos escritos, duvido da autoria de vários, embora me reconheça aqui e ali.
Desenhos infantis podem ter alguma utilidade ?
Nome e endereço de alguns analistas, nem pensar
Não dizemos o nome do louco que nos trata
e ele não divulga nossas absurdezes, sonora palavra impossível
Cartas de amor, podem ter serventia ?
Segredos, bem sei, caem como uma luva em qualquer território
Músicas de dor-de-cotovelo criariam um clima ?
Tantas perguntas, querida revisora,
Podem servir para encobrir meu português imperfeito
Ou minhas tentativas de inventar um outro mundo.
Por isso tenha cuidado com os textos que enviarei
Não pergunte a eles, muito menos a mim,
Nada de concreto. Somos assim.
Insignificantes (sem significado preciso)
polidermes (sempre a flor de muitas peles)
diametralmente erráticos, ou quase.
Feito agora, como resposta, 12 de maio de 2011.