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POWAQQATSI – A VIDA EM TRANSFORMAÇÃO
De Francis Ford Coppola e George Lucas__
Revi ontem este belo filme. Com certeza não foi o mesmo filme que vi há mais de dez anos. Desde então acrescentei à minha bagagem um número imenso de outros filmes, músicas, livros. E vida, claro, que ninguém atravessa dez anos sem deixar vestígios ou tatuar na pele e na alma muitas variadas experiências. E se os olhos não são os mesmos, o que se vê com eles também não pode ser.
As viagens, também, vão nos moldando de alguma forma, ou tirando do molde e remodelando. Eu vi um novo filme ontem, que não poderia mais ser o mesmo por tudo que já disse, mas, e principalmente, porque acabo de chegar da India.
Há referências à India no filme, mas isso não é relevante. A experiência India sim, trouxe a tona impressões e sentimentos desordenados. E seguindo o filme por seus descaminhos de imagens costuradas por uma música belíssima e hipnótica, me vejo profundamente tocada, perplexa, maravilhada e assustada.
A dor pode ser bela ? Como o esforço extremo dos corpos pode ser apresentado como um balé ? Onde o limite das coisas ? A cena é crua, a música não acompanha a imagem, ao contrário, a contrapõe. A sequência exaustiva de imagens provoca um frio no estômago e, quase ao mesmo tempo, impressiona pela beleza. Será ? É possível a mesma coisa ser várias e antagônicas ?
O filme faz pensar. A India faz pensar. Talvez eu volte a ver Powaqqatsi muitas vezes. À índia não penso em voltar, mas quem sabe ? Se me perguntassem anos atrás se eu iria a India algum dia, minha resposta seria um simples e objetivo não. Hoje já não tenho um arsenal de nãos assim tão garantidos para dizer. Sei das voltas que a vida dá. Já perdi a conta das estradas por onde desandei, sem perceber.
Agora levo comigo um baú com inúmeras variações de talvez e pode ser. Muitos sim também, pois custei tanto a poder dizê-lo de peito aberto que agora tenho uma coleção deles.
Pois bem, talvez veja Powaqqatsi outra vez. Verei, sim, Koyaanisqatsi novamente, se possível ainda esta semana. Naqoyqatsi, o terceiro filme da trilogia, não lembro de ter visto. Só o saberei quando encontrar-me com ele diretamente. E o farei brevemente.
Quanto a voltar a India, tirarei do baú um talvez, só por uma questão de coerência. Por enquanto, ainda sob o impacto da experiência única e desconcertante, sinto-me como uma cobra digerindo uma boi. Ou gestando uma flor.