Me desculpo agora pelo silêncio
Que mastigou minha fala nestas últimas semanas
Não haveria porque fazê-lo se não fosse eu mesma
Aquela que se inquieta com isso
Mas, para meu alívio, algo entre a redenção e um novo precipício
Informo que o silêncio foi um tempo digestivo
Uma cobra que devorou um boi
Uma corda que se enredou em mil nós
Observo agora a mínima vida que germina
A semente que caiu em solo inábil
Mas que ainda assim, encontrou caminho,
será uma árvore forte, ainda que retorcida
Me apaziguo com minha temporária ausência
Agora que as palavras transbordam
Boi digerido pela cobra
Onda rebentando ao pé da casa
Queria convidar os amigos
Reuni-los em volta de uma fogueira
Ver queimar beijos partidos
Ler nas chamas um novo dia
Tenho tentado traduzir o indizível
Abraçar o alto da montanha, tocar o frio
Mas a voz que jorra palavras no papel
Nada explica, lança chamas, perguntas.