Não morro cada dia um pouco
Como dizem por aí ou como querem alguns
Morro muito às vezes e nada em outros momentos
Da mesma forma que certas coisas me fazem feliz
E outras não me passam nada
Quem mora em mim agora me diz que devo ser mais
Não especifica mais em que
Por isso vou sendo ao meu bel prazer
mais preguiçosa, mais sensível
Mais água e menos molde
Não ganho nada com isso, tão pouco perco
Estou cansada deste olhar capitalista
Até mesmo sobre a existência
Existir, por si só, já é tão difícil
Precisa ter preço ?, cotação na bolsa de futuros?
Meu futuro não vale tanto, nem tão pouco
Ele será qualquer coisa de bem comigo
Algo como um lago, um sonho, um sorriso
De todas as vidas que vivi e morri, de algumas renasci melhor
De outras (como daquela em que te amei) não pude me recuperar
As cinzas estão por aí, dá pra sentir algumas delas
Em dias de ventania, um pouco antes da chuva
E quem me conhece pode perceber o luto ainda
Por esta (aquela) que sonhou ser feliz
Agora, de futuro e de passado, faço uma colcha de retalhos
Algo do que vivi se embaraça com o que quis e não pude
Com o que desejei e não tive coragem
Com os castelos de areia que esfarelaram em minhas mãos
Com os momentos em que quase cheguei
Mas minhas asas derreteram antes do tempo
Uma colcha de retalhos e algumas fotos em preto e branco
Meu mundo de mais ninguém
Minha verdade tão parecida com qualquer outra tão inventada
A solidão concreta no assombro da noite
O susto de não reconhecer no corpo ao lado
Um porto ou porta, não decifrar o cheiro e nenhum sonho
Já morri sim, tantas vezes
E nesta que sou hoje, você talvez jamais reencontre
Alguém que se julgou capaz de reinventar o mundo
De deixar uma marca própria nesta desidentidade global
Nem aquela que um dia jurou amor eterno
E precisou se matar tantas vezes
Para arrancar de si essa obsessão
perfeito!