Vou
não sei de onde
pra onde porquê
estou rondando
uma sombra
que me ronda
indo sem ir
vaga onda
por um vento leve
uma brisa um nada
como alguém
que acorda
dentro de um sonho
prisioneira
Vou
não sei de onde
pra onde porquê
estou rondando
uma sombra
que me ronda
indo sem ir
vaga onda
por um vento leve
uma brisa um nada
como alguém
que acorda
dentro de um sonho
prisioneira
fim de tarde
quando as possibilidades do dia
já se guardam
para um outro amanhecer
quem sabe?
.
entre as cores do céu
há uma que me esquece de mim
outra que me leva
onde sonhos se perdem
descalços numa areia distante
.
até os pássaros suspendem o canto
nos aquietamos aturdidos alertas
numa atenção perdida
aguardando o desfecho
da luta diária noite-dia
.
sabemos quem vence agora
e quem voltará vitorioso
no próximo round
queria eu também ter
certezas assim
.
fim de tarde
todos os seres suspiram nessa hora
é quase possível perceber (talvez acreditar)
no pulsar das veias nas confissões de amor
no fluir dos rios que nem sempre correm para o mar
quase
a noite ainda na sala de espera
se fosse pra mim
o recado o sonho o chamado
partiria agora
em uma nave especial
lotada de poemas e doidices
não esperava sequer o avião
(ultimamente a neblina tem atrasado
ou mesmo cancelado voos)
voltava a velha casa
tirava as asas do porão
pedia aos pássaros dicas sobre o caminho
saltava da Pedra da Gávea
e ia beirando as praias
até bater na sua janela
e com a ajuda dos amigos alados
fazia ninho no seu coração
jogaria tinta naquele céu de inverno onde as estrelas quase me cegavam de tanto brilho ainda que tudo que eu quisesse fosse deitar-me sob seu manto e dormir
.
protegida da vida, das coisas pequenas e das grandes, das possibilidades do amanhã e de tantas incertezas
.
se pudesse, como na tela do paint ou do fotoshop, pegaria o pequeno regador e jogaria no manto do céu todas as cores do cardápio
.
testaria o céu lilás o rubro o sépia
e pensaria em nós em cada cenário
cada cor um de nossos sets
cada nuance um capítulo diferente de nossa recente estória
.
e antes de dormir fecharia a tela sem gravar nenhuma alteração
porque o céu que guardo em mim
e que me protege com seu manto de estrelas
é aquele que sempre me viu por aqui
picture by Shutter wide shut (flickr)
Não quero ver ou ouvir, nem ir além
a bolha estourou, que mundo é este ?
tenho vertigem do mais, medo do menos
pratico delírios, saltos mortais (que adio)
viajo por lugares não cadastráveis
quem se aproxima de mim ?
por que ? com que objetivos ou faltas ?
me perco aqui e ali
desvio, troco de rumo
mudo de opinião e de casca
transmudo, quase me calo
em que momento perdi minhas asas ?
apenas caíram ou derreteram sob o calor
de um outro corpo ou paixão ?
às vezes me quase acredito
aceito ilusões fáceis a módicos custos
mergulho em águas turvas e só depois vejo onde fui
preciso de ar, de asfixia, de algo sem nome
do alto da montanha imagino o salto
o silêncio, entrega, a liberdade de ir além
não quero saber, sentir já é dor e prazer
descarto os caminhos conhecidos
me levaram a becos sem saída
descarto também os trilhos seguros
não sei viver pequenos bocados, me enfastia
não quero ser triste ou pouco
desfiando histórias que mal me cabem
queria que a lua cheia sorrisse
mas só a nova faz isso e inicia novo ciclo
entre o barco e o porto distâncias se costuram
o leme de tantas viagens, como um galho seco, partiu-se
a bússola sem norte ou sul é apenas objeto decorativo
na sala onde coleciono vazios
são frágeis os planos para evacuar os estádios
multidões de pensamentos invadem o cenário
vozes e demônios sobem ao palco sem cerimônia
não tente entender este relato
não há nele palavras-chave, começo ou fim
estou enredada no meio, destecendo e cerzindo
não posso mais inventar destinos, traçar perfis
estilhaçar meu próprio sentido tão desprovido de si mesmo
pouco me importam as receitas
as opiniões que os sóbrios possam ter de mim
os meus desejos, os caminhos que fiz ou planejei
fizeram-se/me pedaços, vagos, factuais, fumaça
são tolos todos os versos
e inocentes as juras de amor
a nau dos meus sonhos perdeu-se
entre tempestades e calmaria
paixão e precipício
Um dia você vai perceber
que tudo o que somos é mero artifício
Imagem de miragem por trás de tanta sede
Sombra escura no fundo do espelho
Onde se olha e não se apaixona mais
Onde busca e não encontra conforto algum
Um dia desses o álcool não fará efeito
Nem toda droga dará alívio
Para a hora que não passa
E ao longe o farol aponta o vazio
O sol que se desmancha pó
E o instante perdido de um sonho
Sempre distante e no mesmo lugar.