Asas do tempo

Soletro o que não entendo
Na vaga esperança de enfim saber
Rastreio pensamentos
E caio numa espiral sem fim

Enquanto entardece
Me impaciento com o silêncio inabitual
Com o tempo que de repente me sobra
E não sei como preencher

Tenho corrido muito
Perdido horas em engarrafamentos
E marcado tudo em minha agenda eletrônica
Ultimamente utilizo despertador até para dormir

Não vejo a tarde cair em mim
Não pisco, não suspiro, fecho os olhos
Não questiono toda a vã caminhada
E finjo não ver as asas caídas dos meus desejos.

pelos ares

De postal em postal (me) decoras parede afora

nesse digo estou bem, feliz até

noutro, entrelinhas, deixo entrever

ligeiro caso de olhar – quase de amor

ainda noutro, tão soturna

influências de uma noite escura

e ainda aquele em que inspirada

revejo romântica, nossos encontros,beijos, disfarces

chego mesmo a pensar em casamento.

Depois desse tão efusivo

segue o reticente e já nem sei se volto

se fico pra sempre à deriva

e daí pro naufrágio é um mergulho

onde pulo, aperto o gatilho

rasgo o livro que escreveria.

Mas por sorte o próximo é tão lindo

rua estreita, casas floridas

adivinho quintais, crianças, queria tanto

cozinhar bem pro meu bem

fazer docinhos, pastéis.

E então um corte/

Lisboa by night emoldurada

e me derramo sedução e fados

depois um poema duro

sem data ou sentimento certo

e o abstrato, irrecorrivelmente hermético

e outros e tantos, variando segundo

meus ares e tempestades

mas no final, afinal, todos se igualam

amor, saudade, te quero

e só por isso

(não pelos exibicionismos poéticos)

eles atravessam o mundo

e em suas mãos

me entregam

Do livro: Sem Alarde, Vânia Osório, Taurus/Timbre

Festival Literário de São João del Rey

O 4o. Festival de Literatura de São João del Rey, acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro. A homenageada é Ana Maria Machado. Para saber a programação visite o site da Felit ou o blog  estilingues.wordpress.com

Três autores do projeto Estilingues, Alexandre Brandão, Sônia Peçanha e Vânia Osório, darão oficina no dia 27.

nossa praia

Tomo emprestado do céu o azul
da areia as marcas
das águas o ritmo
e o abraço mais íntimo
tento resgatar em você

faço versos de verão
debruço sobre o horizonte
meu olhar sem certezas
e afino meus sonhos em outro diapasão

pego letras do teu e do meu nome
conjugando uma possibilidade de encontro
tateio teu corpo em busca de mim
ou de um lugar, um ninho

as águas nos arrastam
misterioso duo, dúbio, desigual
sorrio, faço poemas invertebrados e livres
e me deixo levar

Balada para un loco (Aline)

Balada para un loco

Tomo esse vinho
Sozinho
Um segundo de descontração
Na vitrola aquele mestre do tango
Me dá uma vontade, um t…

É o Piazzolla
Se você estivesse aqui, você me diria
Então, com sorriso esboçado
Balançaria a cabeça
E me chamaria para dançar

Mas não está
Eu, cansado, você,
Um ser quase inventado
Que no meu quarto
É desejado pelo colchão

Procuro-te por toda parte
E parte meu coração
Tê-lo somente ao final da garrafa
A música acaba
Não há mais ninguém no salão

caminhos de ferro (vania)

Até onde vai a dor ?

Até onde chega o medo ?

E quando chega vem sozinho

Ou traz consigo o terror ?

Até onde vai o cisne

Se o lago é circular e sem saída ?

Até onde voce iria por uma causa,

uma certeza, um amor ?

Para que tantas interrogacões

Se a dúvida é a mola que nos move

Se a noite é o berço do verso

E os dias quase sempre um tédio ?

Onde fica tudo isto

quando tudo acaba ?

No vagão do ontem

Ou na estação do amanhã ?

o espelho através de alice

 

Qual o nosso verdadeiro tamanho?

Alice me sussurra não saber

Quando o mundo parece engolir nosso corpo

Haverá um cogumelo a me fazer crescer?

Se a realidade se traveste em sonho

E se no sonho sinto o beliscar

Como saber se durmo?

Como fazer para acordar?

Mal caminhei e me sinto cansada

Se não sei para onde estou indo,

E o relógio me julga a todo tempo atrasada

Qualquer lugar já me parece um bom destino

E só me importa o chegar…´

É uma menina que habita meu corpo que envelhece

Ontem tomei um chá de certeza

E ele amanheceu turvo em cima da mesa

Acho que estou louca: acontece.

Minha mente vem digerir minha sede por novidade

A minha cabeça está posta a prêmio

Até eu resolver a grande charada:

Afinal, quem sou eu?

A resposta brinca de gato e rato

O rato está atrás do gato

e eu nem sei por onde começar

(Quanto mais eu procuro, mais ela se esconde de mim)

“Comece pelo começo, siga até o fim, e então pare”